DIÁRIO DE UM LADRÃO, Jean Genet

julho 4, 2009

diario

A roupa dos forçados tem listras rosas e brancas. Se, comandado pelo meu coração, universo que é o meu deleite, eu a elegi, tenho pelo menos o poder de descobrir nela os numerosos sentidos que desejo: existe, pois, uma estreita relação entre as flores e os forçados. A fragilidade, a delicadeza das primeiras são da mesma natureza que a brutal insensibilidade dos outros. Se eu tiver de representar um forçado – ou um criminoso -, irei enfeitá-lo com tantas flores que ele mesmo, desaparecendo debaixo delas, há de parecer uma outra, gigantesca, nova. Na direção do que se chama o mal, eu vivi por amor uma aventura que me levou à prisão. Embora nem sempre sejam belos, os homens votados ao mal possuem as virtudes da virilidade. Por si mesmos, ou pela escolha feita para eles de um acidente, eles se afundam com lucidez e sem queixas num elemento reprovador, ignominioso, igual àquele, se for profundo, em que o amor precipita os homens. Os jogos eróticos desvendam um mundo inominável que a linguagem noturna dos amantes revela. Essa linguagem não se escreve. Cochicha-se de noite, ao ouvido, com voz rouca. De madrugada está esquecida.

Uma resposta to “DIÁRIO DE UM LADRÃO, Jean Genet”

  1. Cristina Says:

    “A fragilidade, a delicadeza das primeiras são da mesma natureza que a brutal insensibilidade dos outros.”


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