MACARIO
O charro usava um imenso sombrero, ricamente enfeitado com rendilhas douradas. O curto casaco de couro era adornado com esplêndidos bordados de ouro, prata e seda multicor. As costuras externas de sua calça preta, desde o cinturão até onde a barra tocava as esporas de pura prata, eram guarnecidas de moedas de ouro. A cada pequeno movimento que vez por outra fazia enquanto falava com Macario, as moedas de ouro tilintavam levemente. O charro tinha um bigode negro e uma barba semelhante à de um bode. Os olhos eram pretos retintos, muito apertados e tão penetrantes que davam a impressão de serem agulhas.
Quando os olhos de Macario alcançaram seu rosto, o desconhecido deu um sorriso fino e um tanto malicioso. Era evidente que considerava o próprio sorriso absolutamente irresistível, capaz de seduzir qualquer ser humano, fosse ele homem ou mulher.
“O que me diz, meu amigo, de oferecer um bom pedaço de seu delicioso peru a um cavaleiro faminto?”, disse ele com voz metálica. “Sabe, amigo, cavalguei durante a noite toda e agora estou morrendo de fome. Então, pelos diabos, convide-me a partilhar do seu almoço.”
“Em primeiro lugar”, corrigiu Macario, segurando o peru como se a qualquer momento ele pudesse sair voando, “isto aqui não é almoço. Em segundo lugar, este é o jantar do meu feriado particular, e não vou dividí-lo com ninguém, seja lá quem for. Está entendendo?”
“Não, não estou. Escute aqui, amigo, eu lhe darei minhas pesadas esporas de prata só por essa coxa que você tem na mão”, propôs o charro, umedecendo os lábios com uma fina língua que, caso fosse bipartida, poderia muito bem pertencer a uma cobra.
“De nada me servem esporas, sejam elas de ferro, latão, prata ou ouro cravejado de diamantes, porque não tenho cavalo para montar”, retrucou Macario. Para ele, que esperava por aquela refeição por tantos anos, o peru assado tinha um valor inestimável.
…
O charro disse: “escute, meu bom amigo…”
“Escute você”, interrompeu Macario impaciente. “Você não é meu bom amigo e eu não sou nem quero ser um bom amigo seu, enquanto Deus me salvar a alma. Volte para o inferno de onde veio e me deixe desfrutar do meu jantar de feriado em paz.”