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LIBERDADE, Jonathan Franzen

dezembro 16, 2012

Liberdade

A sensação que tinha de deslocamento não resultava exatamente em inveja, nem inteiramente na impressão de ter vivido além da conta. Era mais uma espécie de desespero diante do esfacelamento do mundo. Os Estados Unidos estavam travando duas guerras terrestres e feias em dois países, o planeta estava se aquecendo como um forno elétrico, e ali no 9:30, ao seu redor, havia centenas de meninos e meninas do mesmo molde que Sarah, a assadora de bolos de banana, com suas suaves aspirações, sua ideia inocente de que tinham pleno direito – a quê? À emoção. À adoração invariável muito especial. A poder ficar a sós uns com os outros e repudiar por uma ou duas horas de uma noite de sábado, como num rito, a desfaçatez e o ódio a seus pais e avós. Pareciam, como Jessica tinha sugerido mais cedo na reunião, não ter nada contra ninguém. Katz percebia isso em suas roupas, que não traíam nada de fúria e do desgosto das plateias de que tinha participado quando era mais novo. Congregavam-se não na raiva mas na celebração de terem descoberto, como geração, um modo mais suave e respeitoso de ser. Um modo de vida, não por acaso, que se harmonizava muito melhor com o consumo. E que, por isso, dizia a Katz: morra.