Archive for the 'Rainer Maria Rilke' Category

A CANÇÃO DE AMOR E DE MORTE DO PORTA-ESTANDARTE CRISTÓVÃO RILKE, Rainer Maria Rilke

fevereiro 23, 2010

Cavalgar, cavalgar, cavalgar, pela noite, pelo dia, pela noite.
Cavalgar, cavalgar, cavalgar.
E a coragem tornou-se tão lassa e a saudade tão grande. Não há mais montanhas, apenas uma árvore. Nada ousa levantar-se. Cabanas estrangeiras agacham-se sequiosas à beira de fontes lamacentas. Em nenhum lugar uma torre. E sempre o mesmo aspecto. É demais, ter dois olhos.

CARTAS A UM JOVEM POETA, Rainer Maria Rilke

junho 28, 2009

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É preciso – e a nossa evolução, aos poucos, há de processar-se nesse sentido – que nada de estranho nos possa advir, senão o que nos pertence desde há muito. Já se modificaram muitas noções relativas ao movimento; há de se reconhecer, aos poucos que aquilo a que chamamos destino sai de dentro dos homens em vez de entrar neles. Muitas pessoas não percebem o que delas saiu, porque não absorveram o seu destino enquanto o viviam, nem o transformaram em si mesmas. Afigurou-se-lhes tão estranho que, em seu confuso espanto, julgavam-no saído justamente naquele momento, e juravam nunca antes ter encontrado em si algo parecido. Como os homens durante muito tempo se iludiram acerca do movimento do sol, assim se enganam ainda em relação ao movimento do que está para vir. O futuro está firme, caro Sr. Kappus, nós é que nos movimentamos no espaço infinito.

O LIVRO DAS HORAS, Rainer Maria Rilke

junho 25, 2009

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Deus, que será de ti quando eu morrer?

Eu sou teu cântaro (e se me romper?)

A tua água (e se me corromper?)

Sou teu agasalho, sou teu afazer.

Vai comigo o significado teu.

Não tens mais sem mim aquela casa, Deus,

que com quentes palavras te acolhia.

Perdem teus pés exaustos as macias

sandálias: também elas eram eu.

A CANÇÃO DE AMOR E DE MORTE DO PORTA-ESTANDARTE CRISTÓVÃO RILKE, Rainer Maria Rilke

junho 17, 2009

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“A câmara da torre está apagada.

Mas eles iluminam seus rostos com sorrisos.

Tateiam diante de si como cegos e encontram o outro como uma porta. Quase como crianças assustadas diante da noite, apertam-se um ao outro. No entanto nada temem. Não há nada contra eles: nenhum ontem e nenhum amanhã, pois o tempo desmoronou. E eles florescem das suas próprias ruínas. Ele não pergunta: “Teu marido?”

Ela não pergunta: “Teu nome?”

Encontram-se, na verdade, para serem um para o outro, uma nova estirpe.

Darão um ao outro cem nomes novos, e tornarão a tirá-los todos, um do outro, de leve, como se tira um brinco de uma orelha.”

CARTAS A UM JOVEM POETA, Rainer Maria Rilke

junho 17, 2009

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“Numa ideia criadora revivem mil noites de amor esquecidas que a enchem de altivez e altitude. Aqueles que se juntam à noite e se entrelaçam num baloiçar de volúpia executam obra grave, reunindo doçuras, profundezas e forças para a canção de algum poeta vindouro que há de surgir para dizer indizíveis prazeres. Eles estão evocando o futuro; mesmo que estejam enganados, que se abracem cegamente, o futuro virá apesar de tudo; um homem novo se há de erguer.”

“Estamos colocados no meio da vida como no elemento que mais nos convém. Também, em conseqüência de uma adaptação milenar, tornamo-nos tão parecidos com ela que, graças a um feliz mimetismo, se permanecermos calados, quase não poderemos ser distinguidos de tudo o que nos rodeia.”